Covid-19 deixa as ruas vazias no complexo de Saúde Pequeno Cotolengo do Paraná – Dom Orione
No dia 11 de março de 2020, o Ministério da Saúde notificou a transmissão comunitária de um vírus ainda desconhecido por todos: Covid-19. Neste mesmo dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia de coronavírus e instalou-se, no Brasil, o estado de calamidade. No Pequeno Cotolengo do Paraná, formava-se o Comitê de Crise para preparar a Organização para o enfrentamento da pandemia. O Plano de Contingência definiu ações emergenciais visando estar em conformidade com as leis e regulamentos, mitigar riscos, estabelecer medidas preventivas e manter condições seguras para funcionários e, principalmente, para os Assistidos que, em virtude das deficiências, constituem o grupo de risco para agravamento da Covid-19. “Imediatamente nos preocupamos com as consequência que uma infecção como esta poderia ter para o Pequeno Cotolengo, uma vez que nossos Assistidos são mais sensíveis às patologias em geral”, relatou Padre Renaldo Lopes, diretor-presidente da Instituição.
Impactos da pandemia
No dia 19 de março de 2020, decisões e medidas sanitárias precisaram ser tomadas pela diretoria do Pequeno Cotolengo. Um dos primeiros atos foi barrar a entrada do público externo. “O fechamento da Instituição foi uma decisão muito difícil, pois teria um grande impacto tanto financeiro quanto emocional para todos, além de não ter qualquer precedente em nossa história”, lembrou Diogo Azevedo, diretor executivo do Pequeno Cotolengo. A medida inviabilizou o trabalho dos mais de 500 voluntários do Pequeno Cotolengo, levando à suspensão das atividades da fábrica de fraldas, à necessidade imediata da compra de mais de 22 mil fraldas por mês, ao cancelamento dos tradicionais churrasco mensais e de todos os demais eventos de arrecadação, e ao fechamento dos Bazares.
Com o impacto na economia, houve ainda uma acentuada queda nas doações, correspondente a 70%, e um aumento expressivo nos custos com equipamentos de proteção individual (EPI) e cuidados clínicos, uma vez que os 230 Assistidos do Pequeno Cotolengo são grupo de risco da Covid-19. Mais do que nunca, a gestão eficiente dos recursos captados e o compromisso de maximização dos resultados contribuíram para abrandar o impacto da queda de receitas e aumento das despesas.
Apoio à rede SUS
Por também integrar o Sistema Único de Saúde (SUS) do Estado do Paraná e a rede hospitalar de Atenção Especializada do SUS em Curitiba, uma das ações do Comitê de Crise do Pequeno Cotolengo do Paraná foi ampliar em 24% o número de leitos de internação não-Covid. A UCCI Santa Terezinha, Unidade Hospitalar de reabilitação para asilados hospitalares da rede SUS de Curitiba, passou a ter 31 leitos.
A UCCI Santa Terezinha serviu de retaguarda para os pacientes SUS egressos de hospitais gerais da Rede de Atenção às Urgências e demais Redes de Atenção à Saúde, liberando leitos de hospitais da região de Curitiba. Neste período, o Pequeno Cotolengo acolheu também nove Assistidos oriundos da Residência Terapêutica Mossunguê, que fechou as portas em decorrência da pandemia.
Dentro de todo o Pequeno Cotolengo, houve a disponibilidade de 24 leitos de isolamento para casos suspeitos e/ou confirmados entre os Assistidos, ofertando a eles um cuidado diferenciado e evitando seu encaminhamento a outros hospitais da rede SUS, o que sobrecarregaria ainda mais o sistema.
Novos processos de trabalho
Todos os setores do Pequeno Cotolengo do Paraná precisaram se comprometer com as barreiras sanitárias e medidas de protocolos de segurança. Para o Serviço Social, as visitas para os Assistidos foram suspensas, sendo necessário um novo planejamento e adequação. Ligações telefônicas e videochamadas para familiares e amigos foram alternativas escolhidas para manter as relações sociais que tanto contribuem com o bem-estar e saúde mental dos Assistidos.
A Central de Atendimento ao Doador foi totalmente adaptada para o sistema home office, as equipes receberam equipamentos telefônicos, treinamentos e assistência técnica para trabalhar integralmente em casa.
O Bazar, outra importante fonte de renda para o Pequeno Cotolengo do Paraná, também precisou se adaptar. Os objetos recebidos por doação foram submetidos a uma “quarentena” para eliminar possíveis contaminações, além de restrições na entrada e permanência, separando dias para lojistas e dias para o público geral.
Para a Escola Pequeno Cotolengo não foi diferente. A primeira medida foi alterar o calendário antecipando o recesso escolar e, após esse período, optou-se pelas aulas online. Foi disponibilizado um tablet para cada Lar, para ser usado pelos professores como tecnologia assistiva durante o período de aula. Passado o momento mais crítico, as aulas voltaram a acontecer de forma presencial, com os professores indo até os Lares e Casas Lares, para a realização de atividades internas.
Prevenção que virou rotina
Mais de um ano depois do início da pandemia, as medidas preventivas viraram rotina. Todos os dias, ao chegar para trabalhar, os funcionários devem higienizar as mãos em pias instaladas logo na entrada do complexo. Todos são submetidos à aferição de temperatura e saturação e devem informar eventuais sintomas ou possível contato com pessoas infectadas. É também obrigatório o uso de máscaras cirúrgicas e higienização das mãos ao transitar por diferentes setores da Organização.
Dentro do refeitório os cuidados continuam. Antes de entrar, deve-se higienizar as mãos com álcool 70%. A fim de evitar aglomerações, foi estabelecida uma escala para os setores. Assentos espaçados e divisórias de acrílico aumentam o isolamento neste delicado momento da refeição. Além disso, cada funcionário deve trazer seus próprios talheres e copos e higienizar com álcool 70% o espaço que utilizou à mesa.
Para melhor controle dos possíveis casos dentro do Pequeno Cotolengo do Paraná, foi determinado o preenchimento diário de um check list, em que os funcionários certificam que as medidas de prevenção estão sendo cumpridas em seu setor. Determinações não cumpridas podem ser denunciadas e geram a abertura de Não Conformidades relacionadas aos Protocolos de Enfrentamento à Pandemia. O rigor quanto ao cumprimento das medidas é crítico para manter a segurança dos Assistidos.
Resultados notáveis
Todos os protocolos e medidas adotadas dentro do Pequeno Cotolengo se mostraram eficazes: não houve nenhum óbito por Covid-19 entre funcionários ou Assistidos. Com mais de um ano de pandemia, o Pequeno Cotolengo registrou em 2020 o tempo recorde de 270 dias, o equivalente a nove meses, sem nenhum caso de contaminação entre Assistidos.
O Pequeno Cotolengo do Paraná foi a primeira Instituição de Longa Permanência de Curitiba a receber as primeiras doses da vacina contra a Covid-19. Assistidos e profissionais da saúde foram contemplados no dia 20 de janeiro de 2021 com a primeira dose da vacinação, e posteriormente, em fevereiro, com a segunda dose.
O sucesso alcançado com a adoção das medidas preventivas só foi possível graças ao comprometimento de todos os funcionários. A eficiência da barreira sanitária do Pequeno Cotolengo é reforçada pelo zelo e carinho que a força de trabalho dedica aos Assistidos. A preocupação de não levar o vírus para casa, neste caso, se estende ao grande Lar que é o Pequeno Cotolengo do Paraná.
Em 2020, apesar de todos os desafios, o Pequeno Cotolengo do Paraná não fez nenhuma demissão, pelo contrário, foram contratados 182 profissionais. A Organização também foi certificada pelo instituto GPTW – Great Place to Work, como uma das melhores empresas para se trabalhar, tanto no Paraná, quanto no Terceiro Setor.
Essas conquistas estimulam o Pequeno Cotolengo do Paraná a ampliar sua atuação no enfrentamento à pandemia. O projeto agora é construir o Centro Especializado de Reabilitação Pós-Covid para tratamento daqueles que foram infectados e ficaram com alguma sequela. Algumas especialidades como a reabilitação física e pulmonar já são práticas comuns na Organização, empregadas no tratamento de seus Assistidos.
O Pequeno Cotolengo segue com todas as medidas sanitárias de enfrentamento a Covid-19, mantendo firmes a esperança e a responsabilidade no cuidado aos mais de 230 Assistidos da Organização. A força humanitária de São Luis Orione, santo fundador da Organização que, a sua época, enfrentou os impactos de guerras e catástrofes naturais, dá o ânimo e a coragem para não só persistir diante das dificuldades, mas também para encontrar novas formas de acolhida e solidariedade aos mais necessitados. Assim o Pequeno Cotolengo segue: cuidando de pessoas, transformando vidas.